Mestre da paciência

Indicação: Estimular a calma e paciência em situações difíceis.
Conta a lenda que um velho sábio, tido como mestre da paciência, era capaz de derrotar qualquer adversário.
Certa tarde, um homem conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu com a intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras em sua direção, cuspiu em sua direção e gritou todos os tipos de insultos.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o homem se deu por vencido e retirou-se. Impressionados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade.
O mestre perguntou:
– Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceitar, a quem pertence o presente?
– A quem tentou entregá-lo. Respondeu um dos discípulos.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.
Autor desconhecido

O RIO E O OCEANO

Indicação: Pessoas Medrosas (Pânico)
Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.

O cervo e o leão

Indicação: Valorização das virtudes
Em um belo dia de verão, um cervo chegou até junto a um regato, com muita sede. Quando inclinou a
cabeça, viu na água a própria imagem e exclamou, orgulhoso:
– Oh, como eu sou bonito e que bonitos são meus chifres!
Aproximou-se mais e viu o reflexo das próprias pernas dentro da água:
– Mas como são finas as minhas pernas . . . – observou com tristeza.
Nesse momento surgiu um leão que saltou sobre o cervo.
O cervo disparou pela campina, com tanta velocidade que o leão não pôde pegá-lo. Aí, o cervo entrou
por dentro da floresta e logo os seus chifres se embaraçaram nos galhos das árvores. Em poucos
instantes o leão saltava sobre o prisioneiro.
– Ai de mim! – gemeu o cervo. – Senti orgulho de meus chifres e desprezei minhas pernas . . . no
entanto, estas me salvariam e estes causaram minha perda . . .
Moral da história:
“Muitas vezes desdenhamos daquilo que temos de melhor.”

A Flauta Mágica

Indicação: Pessoas Controladoras
Era uma vez um caçador que contratou um feiticeiro para ajudá-lo a conseguir alguma coisa que pudesse facilitar seu trabalho nas caçadas. Depois de alguns dias, o feiticeiro entregou-lhe uma flauta mágica que, ao ser tocada, enfeitiçava os animais, fazendo-os dançar.
Entusiasmado com o instrumento, o caçador organizou uma caravana com destino à África, convidando dois outros amigos. Logo no primeiro dia de caçada, o grupo se deparou com um feroz tigre. De imediato, o caçador pôs-se a tocar a flauta e, milagrosamente, o tigre começou a dançar. Foi fuzilado à queima roupa.
Horas depois, um sobressalto. A caravana foi atacada por um leopardo que saltava de uma árvore. Ao som da flauta, contudo, o animal transformou-se: de agressivo, ficou manso e dançou. Os caçadores não hesitaram: mataram-no com vários tiros.
E foi assim até o final do dia, quando o grupo encontrou um leão faminto. A flauta soou, mas o leão não dançou, mas atacou um dos amigos do caçador flautista, devorando-o. Logo depois, devorou o segundo. O tocador de flauta, desesperadamente, fazia soar as notas musicais, mas sem resultado algum. O leão não dançava. E enquanto tocava e tocava, o caçador foi devorado. Dois macacos, em cima de uma árvore próxima, a tudo assistiam. Um deles observou com sabedoria:
– Eu sabia que eles iam se dar mal quando encontrassem um surdinho…
Não confie cegamente nos métodos que sempre deram certo, pois um dia podem não dar. Tenha sempre planos de contingência, prepare alternativas para as situações imprevistas, analise as possibilidades de erro. Esteja atento às mudanças e não espere as dificuldades para agir.
Cuidado com o leão surdo.

O furo no barco

Indicação: Para pessoas preguiçosas
Um homem foi chamado à praia para pintar um barco. Trouxe com ele tinta e pincéis, e começou a pintar o barco de um vermelho brilhante, como fora contratado para fazer. Enquanto pintava, viu que a tinta estava passando pelo fundo do barco. Percebeu que havia um vazamento e decidiu consertá-lo. Quando terminou a pintura, recebeu seu dinheiro e se foi.
No dia seguinte, o proprietário do barco procurou o pintor e presenteou-o com um belo cheque. O pintor ficou surpreso:
O senhor já me pagou pela pintura do barco! – disse ele.
– Mas isto não é pelo trabalho de pintura. É por ter consertado o vazamento do barco.
– Ah!, mas foi um serviço tão pequeno… Certamente, não está me pagando uma quantia tão alta por algo tão insignificante!
– Meu caro amigo, você não compreende. Deixe-me contar-lhe o que aconteceu. Quando pedi a você que pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento. Quando o barco secou, meus filhos o pegaram e saíram para uma pescaria. Eu não estava em casa naquele momento. Quando voltei e notei que haviam saído com o barco, fiquei desesperado, pois lembrei-me que o barco tinha um furo. Imagine meu alívio e alegria quando os vi retornando sãos e salvos. Então, examinei o barco e constatei que você o havia consertado! Percebe, agora, o que fez? Salvou a vida de meus filhos! Não tenho dinheiro suficiente para pagar a sua “pequena” boa ação.
Não importa para quem, quando ou de que maneira: mas, ajude, ampare, enxugue as lágrimas, escute com atenção e carinho, e conserte todos os vazamentos sempre!!!

A Tira Do Avental

Laura Richards Indicação: As aparências enganam
Era uma vez um menino que brincava pela casa toda, ao lado da mãe; como ele era muito pequeno, seus pais resolveram amarrá-lo à tira do avental da mãe. Eles lhe disseram: agora, quando você tropeçar, pode se segurar na tira do avental e se equilibrar; assim você não cai.
O menino obedeceu e ficou tudo bem; e a mãe trabalhava cantando.
O tempo foi passando e o menino cresceu tanto que já ultrapassava o batente da janela. Olhando pra fora, ele via de longe as verdes árvores acenando, o rio que fluía cintilado ao sol e, acima de tudo isso, os picos azuis das montanhas.
– Ah, mamãe – dizia ele, desamarre a tira do avental e me deixe sair!
Porém a mãe dizia:
– Ainda não, meu filho! Ontem, mesmo você tropeçou e teria caído se não fosse a tira do avental. Espere mais um pouquinho até ficar mais forte.
Então o menino esperou e tido ficou como antes; e a mãe trabalhava cantando.
Mas, um dia, o menino encontrou a porta da casa aberta; era primavera, e o tempo estava bom. Ficou de pé no batente, olhando o vale; viu as árvores verdes acenando, o rio correndo ligeiro, com o sol refletindo nas águas, e as montanhas azuis se erguendo mais além. E, desta vez ouviu a voz do rio chamando:
– Venha!
O menino deu um impulso à frente a tira do avental arrebentou
– Oh, como a tira do avental da mamãe é fraquinha! _ exclamou o menino, correndo pelo mundo a fora, com o resto da tira pendendo de lado.
A mãe puxou a outra ponta da tira, prendeu-a contra o peito e continuou a trabalhar.
O menino correu, correu, radiante com a liberdade, o ar fresco e o sol da manhã.
Atravessou o vale e começou a subir a montanha, onde o rio passava ligeiro entre as pedras e barrancos. Bem era fácil subir a montanha; às vezes ficava escarpado e íngreme, mas ele sempre olhava para cima, para os picos azuis mais além. A voz do rio estava sempre em seus ouvidos:
– Venha!
Acabou chegando à beira de um precipício, onde o rio caía numa catarata, espumando e cintilando, formando nuvens de gotículas prateadas. A nuvem lhe enchia os olhos, ele não conseguia ver claramente o chão. Ficou tonto, tropeçou e caiu. Mas na queda, alguma coisa o prendeu na ponta de pedra na beira do precipício. Ficou pendurado,
balançando sobre o abismo. Quando procurou com as mãos o que o prendia, viu que era a tira do avental.
– Oh como a tira do avental da mamãe é forte! – exclamou o menino.
Segurou-se nela e subiu, ficou firmemente de pé, e continuou subindo em direção aos picos azuis da montanha.
Transcrito do Livro das Virtudes II – O compasso Moral – de William J. Bennett.

ADVERSIDADE

Indicado: Lidar com as adversidades
Um filho se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ele. Ele já não sabia mais o que fazer e queria desistir.
Estava cansado de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido um outro surgia. Seu pai, um “chef”, levou-o até a cozinha. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo as panelas começaram a ferver.
Em uma ele colocou cenouras, em outra colocou ovos e, na última pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra. O filho deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo.
Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tigela. Retirou os ovos e os colocou em uma tigela. Então pegou o café com uma concha e o colocou em uma tigela.
Virando-se para ele, perguntou “Querido, o que você está vendo?” “Cenouras, ovos e café,” ele respondeu. Ele o trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as cenouras.
Ele obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Ele, então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ele obedeceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a fervura.
Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ele sorriu ao provar seu aroma delicioso. Ele perguntou humildemente: “O que isto significa, pai?” Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente.
A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil. Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido interior. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rijo.
O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água. “Qual deles é você?” ele perguntou a seu filho. “Quando a adversidade bate a sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?” E você? Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade ? Você murcha e se torna frágil e perde sua força?
Será que você é como o ovo, que começa com um coração maleável? Você teria um espírito maleável, mas depois de alguma morte, uma falência, um divórcio ou uma demissão, você se tornou mais difícil e duro? Sua casca parece a mesma, mas você está mais amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis?
Ou será que você é como o pó de café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a 100 graus centígrados. Quanto mais quente estiver a água, mais gostoso se torna o café.
Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornam piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores. Como você lida com a adversidade? Você é uma cenoura, um ovo ou o café?

O Bem Mais Precioso

Folclore do Leste Europeu Indicação: Quando o amor supera as dificuldades
Há muitos e muitos anos atrás, um rapaz e uma moça se apaixonaram e resolveram se casar. Quase não tinham dinheiro, mas não ligavam para isso. A confiança mútua gerava a fé num belo futuro desde que tivessem um ao outro. Assim, marcaram a data para se unir em corpo e alma.
Antes do casamento, a moça fez um pedido ao noivo:
– Não posso nem imaginar que um dia a gente possa se separar. Mas pode ser que com o tempo a gente se canse um do outro, ou que você se aborreça e me mande de volta a meus pais. Prometa que, se algum dia isso acontecer, me deixará levar comigo o bem mais precioso que eu tiver então.
O noivo riu, achando uma bobagem o que ela dizia, mas a moça não ficou satisfeita enquanto ele não fez a promessa por escrito e devidamente assinada.
Casaram-se
Decididos a melhorar de vida, trabalharam arduamente e foram recompensados.
Cada novo sucesso os fazia mais determinados a sair da pobreza, e trabalhavam ainda mais. O tempo passou o casal prosperou.
Conquistaram uma situação estável, cada vez mais confortável, e finalmente ficaram ricos. Mudaram-se para uma ampla casa, fizeram novos amigos e se cercaram dos prazeres da riqueza.
Mas, dedicados em tempo integrl à prosperidade financeira, aprenderam a pensar mais nas coisas do que um no outro. Discutiam sobre o que comprar quando gastar, como aumentar o patrimônio.
Certo dia, enquanto preparavam uma festa para amigos importantes, discutiam sobre uma bobagem qualquer – o sabor do molho, os lugares à mesa, ou coisas assim. Começaram a levantar a voz, a gritar, e chegaram às inevitáveis acusações.
– Você não liga pra mim! – gritou o marido. – Só pensa em você, em roupas e jóias. Pegue o que achar mais precioso, como te prometi, e volte para a casa dos seus pais. Não há mais motivos para continuarmos juntos.
A mulher empalideceu e encarou-o com um olhar magoado, como se acabasse de descobrir uma coisa insuspeitada.
– Muito bem – disse ela baixinho -, quero mesmo ir embora. Mas devemos ficar juntos esta noite e receber nossos amigos, para salvar as aparências.
A noite chegou. Começou a festa, com todo luxo e fatura que a riqueza permitia.
Alta madrugada, os convidados se retiram e o marido adormeceu. Ela então fez com que o levassem à casa dos pais dela e o pusessem na cama. Quando ele acordou na manhã seguinte, não entendeu o que tinha acontecido. Não sabia onde estava e, quando sentou-se na cama para olhar em volta, a mulher acercou-se da cama.
– Querido marido – disse ela -, você prometeu que se algum dia me mandasse embora eu poderia levar o bem mais precioso que tivesse no momento. Você é o que tenho de mais precioso. Quero você mais do que tudo na vida, e só a morte poderá nos separar.
Nesse momento, ele viu o quanto ambos tinham sido egoístas. Tomou a esposa em seus braços e beijaram-se ternamente. No mesmo dia voltaram para a casa, mais apaixonados do que nunca.
Transcrito do Livro das Virtudes II – O compasso Moral – de William J. Bennett.

Milho de pipoca

Indicação: Superação de Dificuldades
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora:
perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro:
pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
(extraído do livro “O amor que acende a lua”, de Rubem Alves)

O Casal Silencioso

Indicação: A falta de Diálogo
Era uma vez um homem e uma mulher que tinham acabado de se casar. Ainda vestidos com seus trajes nupciais se acomodaram em seu novo lar mal o último convidado partiu.
– Querido – disse a jovem senhora, – vá fechar a porta que dá para a rua. Ficou aberta.
– Fechar a porta? Eu? – falou o noivo. – Um noivo em seus trajes esplêndidos, com um manto de valor inestimável e uma adaga cravejada de pedras? Como alguém poderia esperar que eu fizesse uma coisa dessas? Você deve estar fora do juízo. Vá você mesma fechá-la.
– Ah, é? – gritou a noiva. – Você pensa que sou sua escrava? Uma mulher bonita e gentil como eu, que usa um vestido da mais fina seda? Você acha que eu me levantaria no dia do meu casamento para fechar a porta que dá para uma via pública? Impossível!
Ficaram em silêncio por um minuto ou dois, e a mulher sugeriu que poderiam solucionar o problema com uma aposta. Combinaram que o primeiro que falasse fecharia a porta.
Havia dois sofás na sala, e a dupla se sentou, frente a frente, olhando-se em silêncio.
Ficaram assim durante duas ou três horas. Enquanto isso um bando de ladrões passou por ali e viram que a porta estava aberta. Esgueiraram-se para dentro da casa silenciosa, que parecia deserta, e começaram a recolher todos os objetos que pudessem carregar, fosse qual fosse o seu valor.
O casal de noivos ouviu entrar, mas um achava que era o outro quem devia cuidar do assunto. Nenhum dos dois falou, nem se mexeu, enquanto os ladrões iam de um quarto a outro, até que finalmente chegaram à sala e não perceberam, de inicio, a sombria e estática dupla.
O casal no entanto continuava sentado, enquanto os ladrões carregavam todos os valores e enrolavam os tapetes sob os pés dos esposos. Confundindo o idiota e a sua obstinada esposa com manequins de cera, despojaram-nos de suas jóias.
Mesmo assim a dupla continuava muda.
Os ladrões se foram. A noiva e o noivo continuaram sentados a noite toda, e nenhum deles desistiu. Ao amanhecer um policial em sua ronda viu a porta aberta e entrou. Indo de um aposento ao outro, chegou finalmente ao casal e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Nem o homem nem a mulher se dignaram a responder.
O policial pediu reforços, Muito defensores da lei chegaram, e todos foram ficando cada vez mais furiosos diante do silencio total, que lhes parecia, obviamente, uma afronta calculada.
O oficial encarregado perdeu finalmente o controle e ordenou a um de seus homens:
– Dê um tabefe ou dois nesse homem para que recupere a razão.
Diante disso a mulher não conseguiu conter-se:
-Por favor, senhores guardas – choramingou, – não batam nele. É meu marido!
– Ganhei! – gritou imediatamente o imbecil. – Você vai fechar a porta!
Transcrito do Livro: Histórias da Tradição Sufi – Edições Dervish